Desde que entrei para o clube do livro Was + Fê Pandolfi percebi o poder da boa influência. Acredito que estamos fazendo isso o tempo inteiro, mas com o clube ficou evidente. Pessoas próximas e outras nem tanto, os conhecidos que nos cruzamos raramente, mas que nos acompanham nas redes sociais, vieram direta ou indiretamente me falar sobre o clube, fazer perguntas variadas ou até mesmo apenas parabenizar por participar desse projeto. Perguntas que antes não faziam parte do meu cotidiano ingressaram de mansinho, e foram só ganhando espaço: Tu tens algum livro pra me indicar? Quantos livros vocês leem no clube? Quem escolhe as obras? Tu preferes livro físico ou kindle? Também quero ler essa escritora, por onde inicio? Quero entrar para um clube, alguma sugestão?
Sem querer, vamos sendo referência nesse universo das leituras que antes (pelo menos pra mim) não era tema de uma conversa informal com quem não me conhecia mais intimamente. E foi assim que, sem perceber, meu hobby estava indo para além do nosso grupo de um encontro mensal; estava derrubando fronteiras. E se for para ser uma boa influência, estarei sempre disposta para realizar essas trocas, pois a gente aprende, reflete, agrega, engaja e evolui. E foi num desses encontros, que me veio a questão:
Afinal, o que é final feliz?
Assistindo a um filme coreano, me emocionei praticamente do início ao fim, aguardando o final triunfante que aqueles personagens mereciam: “sofreu tanto”, vai dar a volta por cima. Foi o que aconteceu. Fui dormir aliviada, como se a ficção fosse tão real – não deixa de ser – que provavelmente não vou perder o hábito de querer o “melhor” para os personagens, aquela torcida silenciosa quando me afeiçoo e me conecto às histórias.
Isso chega no ponto em que eu queria: me vinculei a Renée, a Paloma e a Kakuro do livro A elegância do Ouriço de Muriel Barbery. Principalmente a Renée. Foi na concierge que debrucei todas as minhas expectativas. Seu jeito discreto inicialmente me intrigava, pois pensava: mostre ao mundo o que você é, para que tanta sabedoria guardada a sete chaves? E, à medida que fui lendo, tudo foi fazendo sentido. Se mesmo se esforçando para não mostrar suas facetas, ela foi vista e percebida por Kakuro e Paloma (aquele, um senhor japonês misterioso e gentil, esta, uma adolescente pensativa vivendo um intenso dilema), sinal que poucos a perceberiam. Mesmo que ela mostrasse aos quatro cantos todo o seu conhecimento cultural, continuaria não sendo vista, pelo menos não naquele contexto. É como se poucos pudessem realmente vê-la. Trago aqui a analogia do terceiro olho: enquanto a sociedade (representada ali pelo prédio) enxerga apenas com os dois olhos, Paloma e Kakuro enxergavam para além, ativando o terceiro olho, esse que vê a alma. Me choquei quando a vizinha não reconheceu Renée arrumada para o encontro e já de saída para o restaurante (ela era inconfundível, como assim?!). Mas é o tal do véu que cobre o que não podemos ver.
Choramos (eu e a personagem) quando Kakuro disse que Renée não era sua irmã. Isso foi tão forte, tantos anos carregando consigo essa verdade traduzida por traumas e acordos inconscientes, diluídos ali naquele momento. Diferente do tal filme coreano, Renée não viveu um romance, nem acompanhou as conquistas que ainda viriam na vida da Paloma. Se Paloma tivesse filhos, ela não seria a avó dos sonhos. São muitos os possíveis futuros se ela não tivesse atravessado aquela rua. Porém, entendo também que a felicidade está nos momentos cotidianos, nas conversas com a Manuela, nas regas das camélias, do frio na barriga em encontrar alguém que se gosta, em fazer carinho em um bichano chamado Leon, em olhar nos olhos de uma menina e ver ali a verdadeira cumplicidade, então acho que é isso, coisas grandiosas nem sempre são realmente grandiosas e pequenos momentos do cotidiano podem também não ser apenas corriqueiros e banais.
Obrigada Muriel pelo presente, uma leitura com muitas camadas, todas dignas de reflexões, sorte a nossa de termos o clube para realizá-las.
Biografia da autora:
Olá, eu sou a Ana Carolina, me apaixonei pela leitura ainda criança, quando eu e minha irmã ganhamos do nosso tio nossos primeiros livros, eram da coleção “Conto Ilustrado” da antiga editora Scipione, foi mágico, líamos e relíamos sem parar, e guardo eles até hoje, já se vão mais de trinta anos. Casada, dois cachorros, me encanto por mesa posta, moda, decoração, café, viagens e tudo quando o assunto se refere a espiritualidade. Na pedagogia conheci o universo de contar histórias, encantar as crianças através da literatura sempre fez muito sentido pra mim. Além disso, hoje atuo como voluntaria sendo contadora de histórias para crianças hospitalizadas. Apreciadora de arte, encontrei na cerâmica a emoção do fazer artesanal, que tem ganhado um espaço significativo na minha vida. Em 2023 entrei para o clube do livro FêPandolfi+Was, e desde então me redescobri ser uma leitora voraz.