Lá vão eles outra vez, rastejando pela noite com a boca seca, farejando por delírio e perdição.Tateando veludo e mofo com suas mãos macias, pisando no lixo e na glória espalhados pela cidade com suas botas escuras de cano longo.
Veja como eles vão longe, como eles conseguem se manter no alto com seus olhinhos infantis de pupilas cintilantes. Olhinhos cheios de promessas. Ai esses olhos, esses olhos me arrebatam. Qualquer um que consiga encará-los certamente ficará desconcertado. Olhos entreabertos e carentes implorando por um pingo de amor. E, seja movido você por paixão ou piedade, não será capaz de negar-lhes colo, algum dinheiro ou um café da manhã. Mas eles irão embora, eles sempre vão embora. Eles precisam ir, precisam continuar caminhando.
Jovens de face azul cobalto e sexo quente, de pés gelados e pálpebras murchas, distribuem flores roxas para quem encontram pelas esquinas. Esperam a sorte bater em hotéis baratos. Esperam a morte chegar fumando seu último cigarro numa banheira com água morna.
Jovens de lábios ressecados tingidos de vinho tinto dependurados em suas janelas cogitando poesia ou suicídio. Bebendo qualquer coisa que lhes oferecerem para esquecer dos amores e sonhos perdidos. Sussurrando melodias suaves ao pé de ouvidos desconhecidos. Arrotando mágoas verdes cor de limo espatifados na cama durante a manhã com as cortinas do quarto fechadas. Soluçando suas derrotas num choro manso sob à luz branda de uma luminária por volta das 4h. Com cheiro do suor impregnado dos dias sem banho.
Jovens de pele salgada, de língua cítrica, de mamilos rosados e dedos gostosos de chupar. Sorrindo cinicamente para o mundo, dançando no vento, grafitando muros, correndo para direções incertas, fazendo amor em arestas escuras.
Ai esses jovens lindos, jovens lindos de casacas brilhantes. Lambendo o mar pela manhã. Lambendo o sangue do açoite dessas noites dilacerantes.
Texto por Bruna Abrão