Eu não sei indicar quando esta moda começou. Aos poucos, fui percebendo que minhas redes sociais foram invadidas por indicações, posts e ofertas de Clubes do Livro. Eu não entendia como funcionava, qual seria a dinâmica e, principalmente, qual o objetivo de ler um livro e se juntar a um grupo de desconhecidos para falar sobre o que foi lido.
Apesar de não compreender muito o sentido, fiquei com aquela pulguinha da curiosidade em minha orelha, cultivando aquele sentimento de estranheza quanto ao desconhecido: “não tenho ideia do que se trata, mas talvez seja interessante”.
Fiquei atenta ao que surgia em relação ao tema, mas identificava que não me conectava com algumas das ofertas. Não me interessava pela lista de livros de alguns, não tinha interesse em encontros virtuais de outros.
Mantive minhas leituras, segui acompanhando a nova onda, mas não me sentia tentada a aderir a nenhum deles, exceto um clube específico que era mediado pela jornalista e escritora Fê Pandolfi, que eu seguia nas redes sociais. Aquele Clube continha características que me agradavam: era presencial, composto só de mulheres e com livros de ficção. Contudo, ele já estava em andamento, com um grupo fechado e eu não tinha como entrar. Passei os meses observando os encontros pelas redes sociais e até li alguns dos livros indicados.
Por sorte (ou destino), em dezembro de 2023, foi divulgada a possibilidade de participação de alguns seguidores da Fê Pandolfi para o último encontro do ano do seu Clube do Livro. Ela indicou o livro a ser lido, a data do evento e o número de vagas disponíveis.
Na hora, pensei: é a minha chance. Vou poder conhecer o funcionamento de um Clube do Livro sem o compromisso de adesão por um ano.
Fiquei atenta ao momento da inscrição e garanti minha vaga.
O livro indicado – FOI UM PÉSSIMO DIA, DA NATALIA BORGES POLESSO, foi uma excelente surpresa. Eu amei o livro, mas sabia que dificilmente ele seria minha escolha caso estivesse buscando um novo título na livraria.
Comecei a entender que a curadoria dos títulos era um ponto essencial de um Clube do Livro. Neste quesito, a primeira conexão foi realizada com sucesso.
No dia deste encontro de final de ano, estava sozinha, tímida, sem conhecer ninguém e sem saber o que viria pela frente. Apesar do receio, comecei a ser surpreendida com a quantidade de mulheres no encontro, com o sorriso que eu recebia e, principalmente, com a animação evidente daquela mulherada.
Como este era um encontro especial, tivemos a participação da escritora. Após as falas iniciais, o debate teve início. Ali, as participantes não falavam específica ou pomposamente de literatura, elas tinham liberdade de trocar emoções, percepções e intimidades, a partir de uma leitura comum. Não esqueço que, neste primeiro encontro, uma participante ao falar sobre determinado trecho do livro, chorou.
Na hora, pensei: preciso estar neste Clube. É assim que quero conversar sobre os livros que eu leio. Sobre o que senti, se gostei, se não entendi, se me emocionou, se sonhei com alguma personagem. Não quero falar apenas sobre o enredo, não quero saber da resenha, da crítica, do gênero literário, se ganhou prêmio, se é escritor premiado ou iniciante. Quero poder falar sobre o que senti com aquela leitura e saber que outros sentimentos foram despertados em outras pessoas.
Aquela temporada estava terminando. Não sabia como seria o ano seguinte e nem se eu teria oportunidade de me juntar àquela turma. Segui atenta as divulgações, prazos e inscrições e este ano faço parte deste Clube do Livro da Fe Pandolfi, onde já tivemos dois encontros, com a leitura dos livros EM AGOSTO NOS VEMOS, DO GABRIEL GARCIA MARQUES e A ELEGÂNCIA DO OURIÇO, DE MURIEL BARBERY.
Os debates são potentes. O clima é democrático. Há quem faça muitas anotações, quem não tenha conseguido ler o livro todo. Ainda assim, a participação é genuína, com muita liberdade e livre de julgamentos. Temos discordância, respeito e diversidade trabalhando em favor do conhecimento.
Ao final de cada encontro, renovo meu encantamento com o Clube do Livro. Tão bom quanto ler um livro é poder compartilhar minhas impressões com outras pessoas e, ao mesmo tempo, aprender com a visão delas sobre o mesmo texto. É um tipo de empatia literária, onde a visão do outro contribui para o meu entendimento acerca do livro e, especialmente, das pessoas.
Esta experiência tem sido tão gratificante que inclui outro Clube em minha rotina. Adaptando a célebre frase de Ernest Hemingway sobre quem está ao seu lado nas trincheiras, eu diria que tão importante quanto o título que está sendo lido é saber o grupo com quem você está disposto a dividir a sua leitura.
Então, se você gosta de ler, meu conselho: busque um Clube do Livro para chamar de seu.
Texto por Germana Hardman
Biografia da autora:
GERMANA HARDMAN – uma paraibana, com alma carioca e que escolheu morar no Rio Grande do Sul, onde vive há mais de 15 anos. Advogada, como formação e profissão. Apaixonada por letras, livros e gente. Em 2023 publicou de forma independente seu primeiro livro – Entre Nós, onde aborda o tema pela qual é fascinada: AMIZADE.