Dia 10. A gente tem essa grande ideia de tomar o caos como excessivamente intenso e rápido, vertiginoso alguns diriam. Mas o caos começou tão manso por aqui, apenas pequenos sinais em nossa realidade. Acontecia com “o outro” e você sabe…no mundo de hoje o outro tá tão distante.
Noite 15. Insônia, atônita, me agarro depressa ao colchão tencionando não cair da Terra. Em minha cabeça apalpo as escuridões lá ao fundo como quem procura o interruptor de luz em um quarto escuro. O que você acha do estado atual do mundo?
Dia 20. Pela janela avisto muita gente, e as máscaras? A quarentena acabou e não tô sabendo? Ou é só a empatia do mundo que tá pra entrar no dicionário de palavras aposentadas mesmo?
Dia/noite indeterminado. Já tá tudo é fragmentado! As coisas andam de tal forma invertidas que a folia já anda se escondendo do tédio e agora ele é que reina aqui em casa.
Dia não sei dizer. Decido que os números de nada me importam. Nada como a luta contra o que é invisível pra fazer a gente pôr os pés nos chinelinhos e faxinar! De tanto que percorri esses mesmos centímetros quadrados faço a milionésima limpeza de olhos vendados. Imagino um grande palco. Declamo poemas as minhas grandes paredes.
Elas gostam. A imaginação é a força que encontrei pra competir com o confinamento físico que tanto me aborrece.
Cíntia De Quadros Lopes – @Pimentiza
Biografia da autora:
Sou escritora estreante, recentemente selecionada em um concurso pela editora Vivara, no qual fui contemplada com a publicação da poesia O breve diário de uma quarentenista. Uma apaixonada e, constantemente, impressionada com a capacidade de impacto da escrita na vida das pessoas. Faço das palavras meu amor há anos, desde que minha mãe, uma professora incrível, me apresentou o alfabeto e me entregou um pequeno e lindo caderno de caligrafia. Atualmente, faço faculdade de Biblioteconomia na Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC. Impossível deixar de mencionar minhas heroínas favoritas na escrita : Clarice Lispector, Chimamanda Ngozi Adichie, Maria Valéria Rezende, Conceição Evaristo e Margaret Atwood.