Hoje conseguimos mais um feito. Deixamos seu pai no caminho dos compromissos e encaramos a ponte Rio-Niterói sozinhas. Tenso. Aniversário do Supermercado Guanabara. Rua engarrafada. Você começa a chorar. Lembro que esqueci de reforçar o mamá antes de sair… Subo a calçada, apoio o pé na roda do carro, boto o peito pra fora e dá-lhe leite! Você olha os carros e mama. Coloco de volta na cadeirinha já querendo desistir. Choro seu, nervoso meu. Te pego novamente. Você se espanta com o barulho e o brilho dos carros. Te coloco de volta. Consolo. Som de relaxamento no último volume saindo do alto falante. Respiro. Converso. Ligo pro papai. Manobro. Digo que vou desistir. Você grita um pouco. Entro na primeira rua do retorno e você para de chorar, coloca o dedo na boca e começa a piscar vagarosamente. Desisto de desistir. Enfrento o engarrafamento. Agora, ligo e digo que vou seguir. Minha panturrilha dura de acelerar e frear. De tensão. Depois do sinal, pista livre. Chegamos em quinze minutos. Você já dormindo. Duas mochilas nas costas e meu pequeno pacote de quase seis meses nos braços. É muita missão, mas que delícia… Sinto que consigo, sabe? Às vezes, esse conseguir significa pedir ajuda. Às vezes, eu dou conta sozinha.
Texto por Priscilla Rodrigues
Biografia da autora
Priscilla Rodrigues nasceu e cresceu em Campo Grande, periferia do Rio de Janeiro. Os deslocamentos, sempre longos e desgastantes, cumpriram um importante papel na construção da relação com a cidade, influenciando escolhas acadêmicas: formada em Geografia e doutoranda em Planejamento Urbano e Regional. Voraz escritora de diários, sua história de vida, difícil de digerir, encontrou alívio no caos da cidade.