Rua solitária, centro.

Era tarde, voltavam os últimos ônibus. Alguns vinham já apagados. Não estavam disponíveis para embarque.  Dos acessos, um ou dois passageiros, uma solidão estranha que dava pra sentir do alto. A rua toda era muito só a noite, como a senhorinha com bolsa de pano, o moço da bicicleta que fazia som quando andava e o cara do ônibus da empresa. Tinha chovido, tava tudo molhado, as rodas dos carros fazendo barulho na poça e no asfalto. Entrega de lanche agora só amanhã, a partir das dezoito horas, dezessete dependendo do lugar. Igual aqueles que não trabalham as segundas.

Passavam muitos carros na rua solitária, que continuava só porque nenhum deles parava. Uns de policia vinham sempre, as vezes apagados, as vezes cas lamparina de teto ligada refletindo vermelho em tudo. Tava uma coisa que toda hora tinha batida. As seis da manhã, do sino da igreja, as onze da noite, da bota do menino no chão pra ter certeza que ele não tava escondendo nada.

Tinha o telefone do ponto de taxi também, tocava varias vezes e ninguém atendia, coisa de horário mesmo, sabe? De dia, faltava ligação pra tanto carro esperando corrida.

De dia era diferente, mais barulho, menos solitário. Mas chovia igual, as vezes até mais forte. Dava raio e tudo. Sas chuvas que vem de verão e faz vó fazer simpatia pra Santa Barbara e Santa Clara. Da vez que vai a penca de ovo toda pro telhado em uma semana. E daí algumas, já vinha o natal de novo.

Chega uma hora que o tempo passa rápido mesmo, dependendo dá até nervoso. Desses igual esperar ela chegar pra janta na hora combinada, ou então quando ela ta indo sem saber se volta na quarta ou só na sexta. É que final de ano aperta.

Mas pelo menos, dá pra comprar passagem.

O primeiro ônibus sempre passa as cinco e cinquenta. Nessa hora, dependendo do dia, já nem parece que choveu.

 

02.dez.19

Texto por Clara Lua Oliveira