Uma loucura pandêmica

Estávamos no início da pandemia do novo Coronavírus, como não havia o que fazer, mesmo para uma detentora de um perfil metido a resolver as lides da vida, restou-me à pesquisa como uma forma de salvar as pessoas que amo do vírus, mais precisamente minha mãe. O cenário pandêmico, outrora desconhecido pelos cientistas, pelas instituições de saúde, enfim por todos, foi responsável por situações inusitadas de desespero, como: pessoas pedindo máscaras; se isolando em fazendas; estocando alimentos, álcool e máscaras; brigas pelo não uso de máscaras e até sanitizando outras partes do corpo, além das mãos. Situações essas, vistas e consideradas comuns, em um momento pandêmico, já que uma pandemia tem o poder de estabelecer o caos e à desordem social. De todas as loucuras que um ser humano é capaz de realizar em um período conturbado como em uma pandemia, me reservo o direito de dizer que a minha está à frente, no quesito inovação.
Pesquisando sobre o vírus, li que Cuba tinha transferido tecnologia de produção para a China para fabricação conjunta de um medicamento chamado Interferon Alfa 2B, que seria comercializado com o nome de PEG-Heberon, e seria a salvação para a pandemia do novo Coronavírus, claramente hoje vejo que era fake news ou o remédio não cumpriu o propósito desejado. Pesquisei na internet até encontrar um laboratório que comercializasse o medicamento sem receita médica, e como boa pechincheira que sou, fiz orçamento em diferentes laboratórios, tudo digitalmente, e levando em consideração o preço do produto e o preço do frete, fiz a compra. Detalhe: o medicamento somente poderia ser entregue por transportadora devido o acondicionamento e temperatura ideal em que deveria ser mantido. Não citarei o nome do laboratório aqui até porque devo a receita já que o medicamento somente deveria ser vendido sob prescrição médica. Satisfeita com a compra e achando que seria capaz de salvar minha família do vírus, segui a vida e a rotina de cuidados. Para mim, os dias iniciais foram os mais difíceis, foi necessário um tempo para absorver o que estava acontecendo, para estabelecer novas rotinas, uma introspecção interna para não perder a sanidade, resiliência para enfrentar o que estava por vir, empatia para com todos, tudo isso para chegar até aqui. Voltando à loucura, passados alguns dias, a transportadora me liga de uma cidade vizinha, perguntando se poderia deixar o meu pedido em um hospital onde faria entregas. Hesitei já que não queria que ninguém soubesse do meu feito, mas na insistência da transportadora, concordei. Como tinha um amigo farmacêutico naquele hospital, pensei tudo bem, peço para meu amigo trazer. Pelo fato de ser farmacêutico e me conhecer, imaginei que logo ele perceberia que se tratava de um medicamento que eu nunca usaria. Mesmo com receio de ser criticada, arrisquei, no entanto, quando fui pegar a mercadoria com ele, mostrou-se discreto e não fez nenhuma pergunta. Desconfio que ele percebeu alguma coisa e não comentou nada. A loucura teve desdobramentos, reservei um refrigerador somente para colocar o remédio, e esqueci o episódio da compra. Com o passar do tempo, percebi o erro que havia cometido, no entanto, mantive o medicamento em temperatura ideal acreditando que poderia fazer a doação do mesmo, em algum momento. Não ousava mexer naquele refrigerador, não sabia o que fazer, e sinceramente pensava que o medicamento pudesse vir a ser descoberto para salvar vidas na pandemia já que, se prestava para combater vírus e bactérias e a ciência estava trabalhando em descobrir medicamentos para a Covid-19, naquele momento. Em outubro do ano passado, resolvi doar o medicamento, para minha surpresa estava vencido, descartei no lixo comum pois, a compra do remédio ainda era um segredo que está sendo revelado agora, nesta história sobre a pandemia.
Pensem! Um medicamento caro e injetável para as áreas de hepatologia e oncologia na mão de uma pessoa leiga e que com certeza não tinha a coragem de sequestrar um médico e fazê-lo injetar a substância em uma pessoa querida que estivesse à beira da morte por causa do novo Coronavírus SARS-CoV-2. Que desperdício de recurso financeiro e do medicamento em si! Quanta loucura! Penso que é justificável em época de pandemia. Será? Somente um profissional da área de psicologia para responder tal pergunta.

Regiane Paulo Borges é autora do Livro “O Coronavírus – Aspectos sociais de uma pandemia, lançado em agosto de 2021, pela Chiado Books.

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Instagram: @regianepauloborges

Biografia da autora:
Regiane Paulo Borges, nasceu no dia 28 de junho de 1977, na cidade de Goiandira, estado de
Goiás, no entanto, sua cidade natal é Nova Aurora – GO. Graduou-se em Administração de
Empresas pelo Centro de Ensino Superior de Catalão (CESUC), no ano de 1999. Cursou pósgraduação lato sensu em Gestão Financeira e Controladoria e também Gestão de Pessoas e
Marketing, entre os anos 2011-2016, ambas pela Universidade Federal de Goiás, regional
Catalão – GO.
Publicou “A casa fria”, na Revista The Bard, Vol. 3, N° 15, Edição Set/Out 2022.
Em maio de 2022, publicou “Uma loucura pandêmica”, na Antologia Poética Internacional Bem
Mais Fortes – Poemas, histórias e lições de uma pandemia, lançada pela 5S Editora.
Publicou o texto autoral “Liberdade de Ser e Agir”, na Antologia Livre – Liberdade, lançada pela
Chiado Books, no ano de 2021.
Em agosto de 2021, publicou o livro “O Coronavírus – Aspectos sociais de uma pandemia”, pela
Chiado Books.